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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Da "guerra humanitária" à Síria a uma guerra mais ampla no Oriente Médio e Ásia Central.


 "Quando retornei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais militares superiores teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos em vias de ir contra o Iraque, disse ele. Mas há mais. Isto estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e há um total de sete países, a começar pelo Iraque e então a Síria, o Líbano, a Líbia, o Irã, a Somália e o Sudão". General Wesley Clark

 Uma prolongada guerra no Oriente Médio e Ásia Central tem estado nos planos do Pentágono desde meados da década de 1980.

 Como parte deste cenário de guerra prolongada, a aliança EUA-OTAN planeja travar uma campanha militar contra a Síria sob um "mandato humanitário" patrocinado pela ONU.

 A escalada é uma parte integral da agenda militar. A desestabilização de estados soberanos através da "mudança de regime" está estreitamente coordenada com o planejamento militar.

 Há um roteiro militar caracterizado por uma sequência de teatros de guerra dos EUA-OTAN.

 Os preparativos de guerra para atacar a Síria e o Irã têm estado num "estado avançado de prontidão" durante vários anos. O "Syria Accountability and Lebanese Sovereignty Restoration Act" , de 2003, classifica a Síria como um "estado vilão", como um país que apoia o terrorismo.

 Uma guerra à Síria é encarada pelo Pentágono como parte de uma guerra mais ampla dirigida contra o Irã. O presidente George W. Bush confirmou nas suas Memórias que havia "ordenado ao Pentágono planejar um ataque a instalações nucleares do Irã e [havia] considerado um ataque encoberto à Síria" ( George Bush's memoirs reveal how he considered attacks on Iran and Syria , The Guardian, November 8, 2010)

 Esta agenda militar mais vasta está intimamente relacionada com reservas estratégicas de petróleo e rotas de pipelines. Ela é apoiada pelos gigantes petrolíferos anglo-americanos.

 O bombardeamento do Líbano em Julho de 2006 fez parte de um "roteiro militar" cuidadosamente planejado. A extensão da "Guerra de Julho" ao Líbano, e também à Síria, foi contemplada pelos planejadores militares estado-unidenses e israelenses. Ela foi abandonada após a derrota das forças terrestres israelenses pelo Hezbollah.

 A guerra de Julho de 2006 de Israel contra o Líbano também pretendia estabelecer controle israelense sobre a linha costeira a Nordeste do Mediterrâneo incluindo reservas offshore de petróleo e gás em águas territoriais libanesas e palestinas.

 Os planos para invadir tanto o Líbano como a Síria têm permanecido nas mesas de planeamento do Pentágono, apesar da derrota de Israel na guerra de Julho de 2006. "Em Novembro de 2008, cerca de um mês antes de Tel Aviv ter ido à guerra na Faixa de Gaza, os militares israelenses efetuaram exercícios para uma guerra em duas frentes contra o Líbano e a Síria chamada Shiluv Zro'ot III (Crossing Arms III). O exercício militar incluiu uma maciça invasão simulada tanto da Síria como do Líbano" (Ver Mahdi Darius Nazemoraya, Israel's Next War: Today the Gaza Strip, Tomorrow Lebanon? , Global Research, January 17, 2009)

 A estrada para Teerã passa por Damasco. Uma guerra promovida pelos EUA-OTAN contra o Irã envolveria, primordialmente, uma campanha de desestabilização ("mudança de regime") incluindo operações de inteligência encoberta em apoio de forças rebeldes dirigida contra o governo sírio.


Bases e facilidades militares na Asia Central visando o cerco ao Irã.

 Uma "guerra humanitária" sob o lema de "Responsabilidade para Proteger" ("Responsibility to Protect", R2P) dirigida contra a Síria também contribuiria para a desestabilização em curso do Líbano.

 Uma campanha militar em desenvolvimento contra a Síria, traria Israel direto ou indiretamente ao envolvimento nas operações militares e de inteligência.

Uma guerra à Síria levaria à escalada militar.

 Existem atualmente quatro diferentes teatros de guerra: Afeganistão-Paquistão, Iraque, Palestina e Líbia.

 Um ataque à Síria levaria à integração destes teatros de guerra separados, conduzindo eventualmente a uma guerra mais ampla no Oriente Médio e Ásia Central, abarcando toda a região desde o Norte de África e o Mediterrâneo até o Afeganistão e o Paquistão.

 O movimento de protesto agora em curso destina-se a servir de pretexto e justificação para uma intervenção militar contra a Síria. A existência de uma insurreição armada é negada. Os meios de comunicação ocidentais em coro descreveram os acontecimentos recentes na Síria como um "movimento de protesto pacífico" dirigido contra o governo de Bashar Al Assad, quando a evidência confirma a existência de uma insurgência armada integrada por grupos paramilitares islâmicos.

 Desde o início do movimento de protesto em Daraa, em meados de Março, tem ocorrido a troca de tiros entre a polícia e as forças armadas de um lado e pistoleiros armados do outro. Atos incendiários contra edifícios governamentais também foram cometidos. No fim de Julho, em Hama, fogo foi ateado a edifícios públicos como o Tribunal e o Banco Agrícola. Notícias de fontes israelenses informam, mesmo que descartando a existência de um conflito armado, mas reconhecem no entanto que "manifestantes [estavam] armados com metralhadoras pesadas" ( DEBKAfile , August 1, 2001. Relatório sobre Hama, ênfase acrescentada).

"Todas as opções sobre a mesa".

 Em Junho, o senador norte-americano Lindsey Graham (que atuou no Comitê de Serviços Armados do Senado) sugeriu a possibilidade de uma intervenção militar "humanitária" contra a Síria tendo em vista "salvar as vidas de civis". Graham sugeriu que a "opção" aplicada à Líbia sob a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU deveria ser considerada no caso da Síria.

 "Se fez sentido proteger o povo líbio contra Kadafi, e fez porque estava em vias de ser massacrado não houvéssemos enviado a OTAN quando ele estava nos arredores de Bengazi, a questão para o mundo [é], chegamos a esse ponto na Síria...

 Podemos ainda não estar aí, mas estamos a ficar muito próximos, de modo que se você realmente se importa acerca da proteção do povo sírio em relação à carnificina, agora é o momento de deixar Assad saber que todas as opções estão sobre a mesa". (CBS "Face The Nation", June 12, 2011)

 Após adotar a Declaração do Conselho de Segurança da ONU referente à Síria (03/Agosto/2011), a Casa Branca apelou, em termos nada incertos, à "mudança de regime" na Síria e à derrubada do presidente Bashar Al Assad:

 "Não queremos vê-lo permanecer na Síria para o bem da estabilidade, ao contrário, nós o vemos como a causa da instabilidade na Síria", disse o porta-voz da Casa Branca Jay Carney aos repórteres na quarta-feira.

 "E pensamos, francamente, é seguro dizer que a Síria seria um lugar melhor sem o presidente Assad", (citado em Syria: US Call Closer to Calling for Regime Change, IPS, August 4, 2011)

 Sanções econômicas amplas muitas vezes constituem um sinal precursor da intervenção militar total. Uma lei patrocinada pelo senador Lieberman foi apresentada no Senado tendo em vista autorizar sanções econômicas gerais contra a Síria. Além disso, numa carta ao presidente Obama no princípio de Agosto, um grupo de mais de sessenta senadores dos Estados Unidos apelava à "implementação de sanções adicionais... tornando claro para o regime sírio que ele pagará um custo cada vez maior pela sua repressão ultrajante".

 Estas sanções exigiriam bloquear transações bancárias e financeiras bem como "acabar com compras de petróleo sírio e cortar investimentos no setor do petróleo e do gás da Síria". (Ver Pressure on Obama to get tougher on Syria coming from all sides , Foreign Policy, August 3, 2011).

 Enquanto isso, o Departamento de Estado norte-americano também se encontra com membros da oposição Síria no exílio. Também foi canalizado apoio encoberto aos grupos armados rebeldes.

Encruzilhadas perigosas: Guerra à Síria. Cabeça de ponte para um ataque ao Irã.

 A seguir à declaração de 3 de Agosto do presidente do Conselho de Segurança da ONU dirigida contra a Síria, o enviado de Moscow junto à OTAN, Dmitry Rogozin, advertiu dos perigos de uma escalada militar:

 "A OTAN está a planejar uma campanha militar contra a Síria para acelerar a queda do regime do presidente Bashar al-Assad com o objetivo de longo alcance de preparar uma cabeça de ponte para um ataque ao Irã...

 "[Esta declaração] significa que o planejamento [da campanha militar] está a caminho. Ela poderia ser uma conclusão lógica daquelas operações militares e de propaganda, as quais têm sido executadas por certos países ocidentais contra a África do Norte", disse Rogozin numa entrevista ao jornal Izvestia... O diplomata russo destacou o fato de que a aliança tem como objetivo interferir apenas com o regime "cujas visões não coincidem com aquelas do Ocidente".

 Rogozin concordou com a opinião expressa por alguns peritos de que a Síria e depois o Iêmen poderiam ser os últimos passos da OTAN à caminho do lançamento de um ataque ao Irã.

 "O nó corrediço em torno do Irã está a endurecer. O planejamento militar contra o Irã está em andamento. E nós certamente estamos preocupados no que diz respeito a uma escalada rumo à uma guerra em grande escala nesta enorme região", disse Rogozin.

 Aprendendo com a lição líbia, a Rússia "continuará a opor-se a uma resolução violenta à situação na Síria", disse ele, acrescentando que as consequências de um conflito de grande escala na África do Norte seriam devastadoras para todo o mundo. Beachhead for an Attack on Iran": OTAN is planning a Military Campaign against Syria , Novosti, August 5, 2011)


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