Publicado por dinamicaglobal.wordpress.com em 25 de abril de 2012.
Este
domingo, a Rússia e China começaram exercícios navais conjuntos no mar
Amarelo, que coincidiram no tempo com um novo agravamento do litígio
territorial entre a China e os seus vizinhos – as Filipinas e o Vietnã.
O objeto da
disputa são ilhas e atóis desabitados no mar da China Meridional, que
se encontram numa zona muito rica em jazidas subaquáticas de petróleo e
de gás.
Seis países
do Sudeste Asiático disputam as ilhas do arquipélago Spratly no mar da
China Meridional, região onde foram prospetadas ricas jazidas de
hidrocarbonetos. O litígio leva sistematicamente ao agravamento de
tensão e a tentativas de ocupar as ilhas, recifes e bancos de água.
Em meados
de abril, o conflito entre a China e as Filipinas não se transformou por
pouco em confrontação militar aberta. Uma embarcação da Marinha de
Guerra das Filipinas descobriu barcos pesqueiros chineses perto do banco
de Scarborough (Huangyan Dao, para a China). Navios da Guarda Costeira
da China, que chegaram em breve ao local, não permitiram aos filipinos
prender os pescadores.
No caso de
confrontação militar aberta com a China, as Filipinas não teriam
hipóteses mas o país é um aliado antigo dos Estados Unidos, que apoiaram
Filipinas nesta disputa territorial, enviando para a região navios
militares e um destacamento de fuzileiros navais. Ao mesmo tempo,
começaram ali as manobras conjuntas das Marinhas dos países referidos
com a participação do Japão, Austrália e Coreia do Sul.
Leia também: China programa importantes manobras militares perto do Paquistão para conter as ameaças dos EUA.
A China,
naturalmente, não quis ceder e também anunciou o início de manobras nas
águas litigiosas. Este fato não deixaria ninguém surpreso se uma
terceira potência, a Rússia, não participasse nos exercícios.
Moscou e
Pequim não são aliados formalmente, mas efetuam em conjunto as manobras
nas proximidades perigosas da Marinha dos Estados Unidos. A China enviou
para a região mais de 4000 militares e 16 navios, inclusive 5
destroyers de mísseis, 5 fragatas de mísseis, 5 lanchas de mísseis, um
navio de apoio e um navio-hospital. Participam ainda nos exercícios13
aviões e 5 helicópteros de coberta chineses.
A Rússia
enviou quatro navios de combate da Esquadra do Pacífico: o cruzador de
mísseis Varyag, dois grandes navios anti-submarinos Admiral Vinogradov e
Marshal Chaposhnikov, assim como um grande navio anti-submarino da
Esquadra do Norte, Admiral Tribuz. Na região encontram-se também dois
navios de apoio MB-37 e Pechenga.
Deste modo,
perto de algumas ilhas desabitadas, acumularam-se forças navais de sete
países, três dos quais são grandes potências.
Ao mesmo
tempo, tanto Moscou com Pequim, como Washington em conjunto com seus
aliados, asseveram que as suas manobras estavam previstas
antecipadamente, não representam qualquer ameaça e não têm nada a ver
com a disputa territorial.
Sem dúvida,
estas declarações expressam uma certa astúcia, mas é evidente também
que três grandes potências perseguem os seus próprios objetivos nesta
situação conflituosa.
No caso da
China tudo está mais ou menos claro: a vontade de submeter ao seu
controle ricas jazidas parece se não justa, pelo menos compreensível.
Por outro lado, a China preocupa-se muito com a sua grandeza e não quer
ceder nesta situação.
Mas a
participação da Rússia neste conflito não declarado parece estranha à
primeira vista: em qualquer caso, Moscou não pode pretender a esta
região petrolífera. Contudo, a Rússia tem as suas razões não muito
evidentes, mas também muito importantes: primeiro, fazer lembrar ao
mundo que ela é também uma grande potência, capaz de resolver tarefas
político-militares em qualquer parte do mundo e, segundo e o mais
importante é demostrar que Moscou e Pequim não são rivais estratégicos e
podem cooperar em situações conflituosas.
Mas o
aspecto mais interessante do conflito é a motivação dos Estados Unidos.
Recentemente, o Pentágono anunciou um plano de intensificar as forças na
Ásia. Em conformidade com a nova estratégia defensiva, apresentada no
início do ano pelo presidente Barack Obama, os Estados Unidos começam a
redistribuir as suas forças no mundo. Assim, foi comunicado sobre uma
redução insignificante do contingente militar americano na Europa mas,
ao mesmo tempo, as fronteiras da UE, tal como a região do Oriente Médio
serão reforçadas com unidades de Defesa Antiaérea.
Uma parte
da estratégia militar diz respeito à redistribuição das forças a favor
da Região Asiática do Pacífico. A imprensa já publicou suposições que a
China poderá reagir ao desdobramento de um sistema de ABM na Ásia tanto
que os protestos da Rússia parecerão um jogo inocente.
É possível
que a concentração de forças navais de hoje num canto afastado do
Pacífico dê início a um grande conflito entre os Estados Unidos e a
China e não em torno das pequenas e fracas Filipinas.
A Rússia,
participando indiretamente num conflito local, simplesmente aproveita
corretamente um momento oportuno para não ficar de lado no próximo
grande jogo.
Autor: Dmitri Kontchalovsky
fonte: Voz da Rússia
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