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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Novos meios para vigiar a América Latina: você vai querer saber disso.

por J. Patrice McSherry

O novo projeto de supercomputadores está sob responsabilidade de um organismo pouco conhecido, Intelligence Advanced Research Projects Activity (IARPA), que funciona sob a orientação do diretor da Inteligência Nacional dos E.U.A.


 O governo dos Estados Unidos, com o apoio técnico de algumas universidades norte-americanas, quer utilizar a informação “pública” que os usuários colocam no Facebook, Twitter, páginas de web, webcams, blogs e outras mídias sociais para acumular uma enorme base de dados com o propósito de preceder tanto as crises políticas, ou seja, revoluções, instabilidade ou distúrbios sociais, como crises econômicas. Semelhante ao Projeto Camelot dos anos 60, este projeto de vigilância e espionagem estará dirigido a América Latina.



 O projeto copiará, automaticamente, por meio de supercomputadores, dados de 21 países da América latina, por um período de três anos que começaria em 2012. Existe um projeto similar para o Afeganistão, patrocinado por Darpa (organização “irmã” militar, do Pentágono) para identificar redes sociais de potenciais terroristas neste país.

 Em 1964, o Escritório de Investigação e Desenvolvimento do exército dos Estados Unidos patrocinou o Projeto Camelot, que foi um esforço de recompilação de informação no contexto da estratégia de contrainsurgência. O Projeto Camelot foi concebido, originalmente, para ter uma vasta cobertura, abarcando países em todo o mundo em desenvolvimento. No entanto, o projeto foi implementado somente no Chile e não por muito tempo.



 Os objetivos declarados do projeto eram “desenhar procedimentos para avaliar a potencialidade de que se desenvolver uma guerra interna no interior das sociedades nacionais” e “identificar... aquelas ações que um governo pudesse desenvolver para mitigar as condições favoráveis a ela”. Por baixo da camuflagem oferecida por um projeto universitário de ciências do comportamento, que se encontrava no Escritório de Investigação de Operações Especiais da Universidade Americana (financiada pelo exército), Camelot era um projeto encoberto de inteligência. Um general do exército norte-americano afirmou que tal projeto “nos ajudaria a preceder a utilização potencial do exército dos Estados Unidos em qualquer número de casos aonde a situação se descontrolasse”.

 No Chile, o projeto Camelot foi apresentado como uma pesquisa acadêmica, escondendo-se sua relação com o Pentágono. Os investigadores pesquisaram os chilenos de todos os setores da sociedade para estabelecer suas crenças políticas, seu compromisso com a democracia e outra informação pessoal e política. Segundo uma chilena que foi entrevistada, cada pessoa foi logo fixada em categorias em conformidade com o nível de perigo ou de “potencial subversivo”. Quando esta pessoa tratava posteriormente de obter um visto aos Estados Unidos, as autoridades dos Estados Unidos tinham um arquivo completo sobre ela, com toda a informação supostamente confidencial que ela havia colocado no formulário.



 As bases de dados de Camelot também foram utilizadas para a guerra psicológica. Serviram para influenciar nas atitudes políticas e, de essa maneira, a manipular certas eleições chaves. A CIA digitalizou os dados coletados por Camelot e os analizou e utilizou para produzir assustadores anúncios anticomunistas durante a campanha eleitoral de 1964 de Eduardo Frei, candidato demócrata cristão, contra o esquerdista Salvador Allende. Por exemplo, era dito às mulheres que se Allende fosse eleito, seus filhos seriam enviados a Cuba e seus esposos a campos de concentração. A natureza contra-insurgente do Projeto Camelot foi descoberta pelo governo chileno e foi encerado em 1965, depois de ouvir tanto no Congresso do Chile como no dos Estados Unidos.

 Não é a primeira vez que na época recente o governo dos E.U.A. tem acumulado grande quantidade de dados em projetos de data mining (extração massiva de dados). Durante a administração de George Bush, a National Security Agency começou a extração de dados de milhões de cidadãos dos Estados Unidos – das chamadas telefônicas, correios eletrônicos (emails), fax e outras fontes – num programa secreto sem autorização judicial, supostamente para descobrir e vigilar potenciais integrantes de redes terroristas. Tal administração também tratou de implementar outro enorme projeto, que se chamou Total Information Awareness, para acumular uma base de dados para buscar padrões de conduta ou tendências nos correios, chamadas telefônicas, transações financeiras, informação de vistos, etc, supostamente para identificar inimigos. Este programa foi rejeitado pelo Congresso depois de produzir uma reação muito negativa no público.



 Este tipo de projeto tem implicâncias sumamente preocupantes para os cidadãos, tanto da América latina como dos Estados Unidos e qualquer outro país. É o ponto de partida para uma vigilância em massa de toda a população, através de sua vida pessoal e social, violando sua liberdade pessoal e seus direitos. A ideia de que organizações de inteligência e militares estejam vigiando e seguindo os passos dos cidadãos – todos sob suspeita – para predizer atos de violência no futuro é autoritário e orwelliano, e evoca a doutrina de segurança nacional. O equipamento da segurança nacional norte-americano parece estar se estendendo e ampliando-se fora de controle, com projetos cada vez mais intrusivos e antidemocráticos. Agora que os cidadãos em muitos países estão cada vez mais indignados com os respectivos sistemas e recorrem a atos de protesto para impor as mudanças econômicas, sociais e políticas, se faz necessário conhecer e desafiar este tipo de projeto.

Autora: J. Patrice McSherry, Diretora do Programa de Estudos sobre a América latina e o Caribe em Long Island University, Brooklyn. Autora de: Los Estados Depredadores: Operación Cóndor y la Guerra Encubierta en América Latina.

Fonte: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=27426

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